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Arquitetos: M2.senos
- Área: 85 m²
- Ano: 2017
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Fotografias:Nelson Garrido
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Fabricantes: Adriazul, Geberit, Portilame, Primus Vitória, VELUX Commercial, Weber
Descrição enviada pela equipe de projeto. Umas instalações sanitárias num cemitério parece não ser o mais apelativo dos projetos. Nem pelo programa. Nem pelo Sítio. Nem pelo orçamento. Para nós, foi entusiasmante! Tínhamos ali entrado algumas vezes, sempre desconfortáveis, a olhar para o chão para não tropeçarmos nos caminhos estreitos entre as grandes pedras de mármore. Por isso, quando nos propuseram a reabilitação das casas de banho existentes, foi como se entrássemos naqueles portões pela primeira vez. Percebemos as hierarquias, as ruas, os caminhos, o largo, a igreja, as entradas, as saídas, as árvores, as pedras, e os canteiros verdes; que bonitos e organizados!
O edifício (existente) era enorme e descontextualizado. Só coberturas, palas, mesmo ali amarradas à capela. Um sacrilégio logo ao entrar do lado sul daquele espaço. Tudo o que fizemos foi reduzi-lo. Reduzi-lo em tamanho e informação. Um exercício de abstração para gerar um objecto abstrato: sem portas, sem janelas, sem telheiros ou alpendres. O revestimento em azulejo surgiu de forma natural. E verde. O objecto devia identificar-se mais com os elementos naturais, e menos com os construídos, deixando que a igreja, ali tão próxima, se evidencia-se. Para isto, o azulejo devia revestir todo o edifício, fachadas, cobertura, tornando o objecto unitário e neutro. Mas depois surge a realidade: a técnica e a econômica – e ainda bem.
A equipe de trabalho não tem experiência na aplicação de azulejo? Fica caro e é lento? O desenho resolve! Acrescentam-se rebocos, minimiza-se a exigência das zonas em curva, optimizam-se as estereotomias, simplifica-se a cobertura: um trabalho de detalhe, resolve-se um problema de cada vez. As entradas fazem-se através dos negativos existentes. A sul, projeta-se a entrada para os novos espaços de apoio aos funcionários do cemitério. A norte, faz-se a entrada principal, a partir da qual se chega a zona central, um espaço ambíguo entre o interior e o exterior, enfatizado pela luz natural e pelo pavimento em calçada portuguesa, prolongamento dos passeios envolventes ao edifício. Neste espaço situam-se os lavabos, e funciona como charneira comum entre as instalações femininas, masculinas e acessíveis.
Um edifício sem tecnologia: o vento desumidifica e renova o ar, potenciado pela orientação norte sul. Estruturalmente a cobertura desenvolve-se em vigamento de madeira, com uma velatura branca, que assenta sobre as paredes pré existentes. Todos os interiores são brancos e com iluminação natural através de claraboias, reforçando o conforto lumínico. Grandes bancadas em mármore (material familiar ao recinto) desenham os lava-mãos. Um pouco mais à frente, desenhou-se um queimador de velas em chapa de ferro pintado a negro, robusto e resistente, mas com um desenho delicado. No conjunto, estes dois objetos reforçam a rede hierárquica do cemitério, não deixando de ser, pela sua escala, e pela sua unidade sintética, mais um dos seus “saleiros e pimenteiros”.